terça-feira, 19 de abril de 2011

Insensatez

Meu insensato lado de lá,
que se insinua
na segura corrente em que vivo.
Que me deseja nua, na rua,
tonta de tanto riso,
afugentando a demência de tanto siso.

Meu sensato lado de cá,
que equilibrista me faz,
e foge do perigo,
e em redoma segura se fecha,
e prende as cordas.
Torna cansativa paz a quietude.
Secreta-me um degredo,
sem mistério, sem segredo.

Ah! Insensatez que não se impõe!
Minha incerta parte que não se expressa!
Arrebenta de vez o quadrado.
Faz pontudo, faz de conta,
faz tudo que insensato pareça.
Impede que a sensatez me emudeça.
Faz-me lenta, prazerosa,
liberta de cercas, à toa,
insensata, misteriosa.

Oldair Marques

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