segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O sonho da estrela



O sonho da estrela

Aquela estrela que brilha,
No alto do seu altar,
Um dia já brilhou mais,
Hoje não quer mais brilhar.

Do alto, onde só reza,
Vê o mundo se alegrar,
Vê o caboclo que preza
E sonha com ele estar.

Não é lamento o que sente
Quer, porém, se transformar.
Ai! Quem dera fosse gente!...
Hoje não quer mais brilhar.

Oldair Marques

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Profecia



Profecia

Quero ver o sol nascer
de dia, de noite, dentro de você.
Quero preencher todo momento
de fantástica alegria.

Profetiza, minha poesia.

Quero ver você sereno,
pleno de bem querer.
Quero todos amados, 
ternos, calados de berros.

Quero ser o compasso da harmonia.
Quero assim sempre querer.
Ah! pelo menos isto,
profetiza minha poesia.

Quero viver.
Quero ver tudo renascer.
Até mesmo o dia em que eu morrer, 
há de fazer-se manhã de sol
se noite fria for,
há de acrescentar vida
ao que atrás ficou.

Profecia,
belamente profetiza,
minha doce poesia.

Oldair Marques

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nosso time



Minhas vestes?
Rubro-negra.
As tuas,
branca e preta.

Enquanto vibro de alegria,
tu choras.
E, embora sem destreza,
tocas tua corneta
no dia da minha tristeza.

De brincadeira em brincadeira,
os dias passam amenos.
E o melhor de tudo
nessa lida
é vestirmos, ambos,
nossa mais fiel bandeira.
E comemorarmos juntos
a vida,
à brasileira.

Oldair Marques



domingo, 13 de novembro de 2011

Em tempo de viver





Em tempo de viver

Ainda que pareça tarde,
é cedo para começar
em tempo de amar.

Ainda que pareça cedo,
é tarde para consertar
em tempo de recomeçar.

Ainda que pareça impróprio, 
é impróprio assim pensar
em tempo de se dar.

Ainda que pareça em vão,
é mediocridade parar
em tempo de continuar.

Ainda que pareça impossível, 
que o caminho se insinue
longe e indefinido,
não é nobre deter a esperança,
a fantasia,
o sonho desta poesia
Em tempo de viver.

Oldair Marques

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Viajante



Andei e,
até ontem,
tudo que vi 
não me impediu 
de continuar. 
E ando, então, até aqui.

Andei
até hoje, 
e tudo que senti 
nem suficiente é 
por tudo que pressenti.

E penso andar ainda.
E nem sei do porto.

Andarei assim 
até que não me comporte mais
o quadrante.

Serei, como então, 
andante, 
que lança versos grátis 
no mercado ambulante.
Um certo camelô 
que foge do rapa, 
mesmo dando amor.

Andando nesta viagem 
Passageira, 
Viajante é o que sou.

Oldair Marques

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Beije-o!


Beije-o!

Onde os beijos
que ele tanto pedia?
Não eras tu
que os impregnava
de lascívia?
Não eras tu
que os dava
quando nos braços
de Eros dormias?

Fica de bem
com a fantasia, mulher!
Deixa-te sonhar de novo,
apesar da lida.
Mais vale o eterno
encanto da promessa,
que o efêmero
beijo da despedida.

Oldair Marques

sábado, 27 de agosto de 2011

Dona Fantasia




Deixa-me querer-te
parte do meu abandono,
inteiro do meu pequeno mundo
ainda sem dono.

Se dona não queres ter,
se dono não queres ser,
deixa-me a esperança
do teu querer,
do amor que tudo alcança
e que a si próprio todo se lança
para bem viver.

Nesta tentativa de te fazer poesia,
só quero querer-te
presença de vida vadia,
manifesto de paz,
suave alegria.

Deixa-me querer-te
supremo encanto do meu
pacífico pensamento.
Assim, em algum lugar
do momento,
pertences, não a mim,
ao nosso encontro do dia.
És dono, não de mim,
da nossa doce fantasia.

Oldair Marques


A Reforma



O marceneiro invocado,
sabe ser bem diferente.
Tem mulher atrapalhada
sendo sua paciente.
E a sua lá de casa
pensando que é só cliente.

O Zé Grande que se cuide
e trate de bem fazer
porque o chefe lhe pega,
dando fim à amizade,
se a luz não acender.

O pintor só vai de branco,
mas a cor é encarnada.
Sua alma é transparente,
tem dente pra dar risada.
Essa turma se esbalda,
e sobremesa é gargalhada.

O Neguinho, esse sonha
com a menina namorar,
deixa o tijolo de lado e
dana a cochilar.
Esse pequeno que acorde
pro Baiano não brigar.

O porteiro, empresário,
não sabe mais o que faz:
ora atende ao locatário,
ora é o Baiano que vai.

E naquele lugar animado,
onde mora uma pantera,
tudo é muito combinado.
Tem suco e cafezinho,
tem bolo e até beijinho,
pra acalmar cabra zangado.

É uma turma muito unida
e seu Santinho não nega:
que seria desta vida,
não fosse essa euforia
o tempero da peleja?

E assim vive essa gente,
sem precisar de socorro.
Mas quando o negócio aperta,
no comando do Baiano,
vira tudo “fi de corno!.”

Oldair Marques












quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Silêncio!


Para o meu riso.
Para o meu choro,
meu decoro,
meu falar.
Silêncio para amar.

Silêncio!
Por um momento,
não quer lamento, 
nem em vão silenciar.

Silêncio!
Não para emudecer
e de todo morrer.
Silêncio para viver.

Silêncio
para o sono 
e o acordar.

Silêncio!
Para o dono da beleza,
Senhor Pai da Natureza,
silencioso, falar.

Oldair Marques



domingo, 31 de julho de 2011

Tu, inspiração



Eu, um imenso rio de água doce
Que quer a ti como se preciso fosse
Que tua grande força, sem aguaceiro,
Enchesse, a transbordar, o meu leito fagueiro.

Tu, esse crescer intenso de amor
Que de mim não necessita para ser senhor
Que tanto é, que tanto faz, que tanto cria
Que nem mesmo sente se eu quero, ou poderia.

Nós, que a ternura da amizade uniu
E a seguir o alvo que ninguém previu,
Sem o abraço, quanto nos abraçamos! 
Sem o encontro, quanto nos encontramos! 

Eu, ainda eu, sem o teu perceber,
Em permanentes sonhos que ninguém vê,
Sendo um rio que todo a ti se oferece,
Sou mesmo a gota d’água que em tua ausência fenece.

Oldair Marques       




sábado, 16 de julho de 2011

O amor não passou




Não. Não passou.
Passaram-se anos,
séculos, 
e tua ausência perdurou.

Passaram-se todas
as vidas,
que nesta contenho,
depurando-me
sem tua presença.

Não. Não passou.
Ainda contenho,
de tantas vidas,
multidões de ti
que me invadem
de amor.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Furto noturno



Sabe?!
Aqueles teus beijos
que, julgando-os meus,
disse que me devias?

Nem te conto!
Fiz coisa incomum.
Furtei-os todos
na calada da noite,
na tua ausência em meus dias.

Hoje,
não me deves nenhum.


Oldair Marques

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Emoção




No coração, capital do amor,
eis que surjo como um aceso balão
em noite de São João no interior.

Sobe, sobe alto meu balão!
Livra dos véus este devaneio,
passeio de recordação.

Sobe até os lábios seus esta euforia
do que seria se então
caísses nos braços meus.

Meu glorioso senso de vibrante,
de inesquecível paixão!
Quero ver-te em brasa permanente,
insensato desrespeito à ilusão,
como se diário fosse em peito
o dia da emoção.

Oldair Marques

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Barracão

Imitas morada,
barracão de família,
onde a vigília vem à noite
e descansa
sem lamento,
no relento,
ao chão.

Se bem que te sei fraco,
imundo,
oriundo de profundo fracasso,
da lama te renasço.
E por amor de teu dono,
finjo-me tonta de sono,
deito-me em teu chão,
e palácio te faço 
em vigília de paixão.

E embora tu não vejas,
vejo-te em meu fértil poema.
O rouco passarinho, 
o estridente vizinho.  
O leite derramado, 
a fresta no telhado,
o frio, o dilema:
teu medo de amanhecer tombado.

Nesta intensa emoção 
em que vivo a cada dia
para tirar-te dessa triste moradia,
só temo que teu dono,
por ironia, ou desolação,
não queira minha poesia
de te fazer palácio,
barracão! 


Oldair Marques


terça-feira, 24 de maio de 2011

Poema de Amor


Se ontem pedi para encontrar
e, não sei porque,
roguei em vão.
Se de noite reforcei a súplica,
promessas
que ainda não posso cumprir,
e enternecido com tanta busca,
meu coração hesita em ir
nesta vaga dor, Senhor!
Hás de entender, por certo,
se antes do dia eu for.

Em última instância, porém,
te peço:
não me negues a alegria de esperar.
Recorro por aquela que nunca fenece.
Faze, pelo menos,
com que eu vá seguindo
e, desde que indo,
nunca canse de procurar
o amor que rezo nesta prece.

Seja só isto um poema de amor.


Oldair Marques



Vestido de noiva

De cetim.
Um vestido feito assim
que o próprio bordado
produz.
Branco, branco, branco
porque reflete a luz.

E nupcialmente
me desnudas,
sem lascívia
ou volúpia somente.

Da carne me despes
e ama-me
como se nada além
tivesse mais vida,
além do prazer
do amor, assim,
da carne despida.


Oldair Marques












quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dia de Festa

É dia de festa no vizinho.
Festa oficial.
Cerimonial de balões,
de canções, de festival.

É dia de festa,
de orações,
de exaltações.
Missa, alvíssaras.
Dia de ternos corações.

É dia de festa no vizinho
que festeja, sozinho,
em multidões
de coloridos balões,
que aos céus sobem
galardões.

É dia de festa no vizinho,
de alegria.
E vejo subir, imponentes,
balões de tanta gente...
Aqui, tão coloridos!
Lá em cima, transparentes.

E espiando a ação de graças
da folia, vejo agora, tão alto,
um só balão
sem o colorido dos balões
que eu pensei que via.

Um só balão, de tantos,
procurando seu infinito
no limite da minha poesia.


Oldair Marques






quarta-feira, 11 de maio de 2011

Espelhada Visão




Quis ser o céu, quis ser a terra,
quis ser o mar, o ar, o fogo,
o todo de único tema.
Mas tudo que quis,
todo poeta foi em seu poema.

Fui você, para não plagiar.
Fui eu, no espelho,
me plagiando a imagem.
Fui o movimento, a revirada. 
Fui o outro. Terminei sendo o nada.

Quis ser inteira, quis ser metade.
Quis ser quem chega,  
quis ser quem parte.
E para não ser quem imita,
fui quem morre, fui quem fica.

E ainda projetada no espelho,
cópia da própria vida, 
me esperei na chegada
e embarquei na partida.

Quis ser eu. Quis ser Deus.
Quis ser exclusivo pensamento.
Acabei sendo o imitável universo,
a visão que alcanço.
Sou, enfim, o meu verso.


Oldair Marques

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dança comigo

Lá vem um corpo
gracioso, deslizando.
A ponta do pé
o chão acaricia.
As mãos, aos céus
docemente se erguem,
e a alma vem flutuando.

Mexe pra lá e pra cá
esse ente que
a dança ensina.

Um fogo ardente
e sereno
por dentro vagueia
e o salão ilumina.

E o meu corpo,
este principiante,
em tudo imita
essa lamparina.

E minh’alma,
ah! esta apaixonada!
anseia, um dia,
ser dançarina.


Oldair Marques



terça-feira, 19 de abril de 2011

Insensatez

Meu insensato lado de lá,
que se insinua
na segura corrente em que vivo.
Que me deseja nua, na rua,
tonta de tanto riso,
afugentando a demência de tanto siso.

Meu sensato lado de cá,
que equilibrista me faz,
e foge do perigo,
e em redoma segura se fecha,
e prende as cordas.
Torna cansativa paz a quietude.
Secreta-me um degredo,
sem mistério, sem segredo.

Ah! Insensatez que não se impõe!
Minha incerta parte que não se expressa!
Arrebenta de vez o quadrado.
Faz pontudo, faz de conta,
faz tudo que insensato pareça.
Impede que a sensatez me emudeça.
Faz-me lenta, prazerosa,
liberta de cercas, à toa,
insensata, misteriosa.

Oldair Marques

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