sexta-feira, 10 de junho de 2011

Barracão

Imitas morada,
barracão de família,
onde a vigília vem à noite
e descansa
sem lamento,
no relento,
ao chão.

Se bem que te sei fraco,
imundo,
oriundo de profundo fracasso,
da lama te renasço.
E por amor de teu dono,
finjo-me tonta de sono,
deito-me em teu chão,
e palácio te faço 
em vigília de paixão.

E embora tu não vejas,
vejo-te em meu fértil poema.
O rouco passarinho, 
o estridente vizinho.  
O leite derramado, 
a fresta no telhado,
o frio, o dilema:
teu medo de amanhecer tombado.

Nesta intensa emoção 
em que vivo a cada dia
para tirar-te dessa triste moradia,
só temo que teu dono,
por ironia, ou desolação,
não queira minha poesia
de te fazer palácio,
barracão! 


Oldair Marques


terça-feira, 24 de maio de 2011

Poema de Amor


Se ontem pedi para encontrar
e, não sei porque,
roguei em vão.
Se de noite reforcei a súplica,
promessas
que ainda não posso cumprir,
e enternecido com tanta busca,
meu coração hesita em ir
nesta vaga dor, Senhor!
Hás de entender, por certo,
se antes do dia eu for.

Em última instância, porém,
te peço:
não me negues a alegria de esperar.
Recorro por aquela que nunca fenece.
Faze, pelo menos,
com que eu vá seguindo
e, desde que indo,
nunca canse de procurar
o amor que rezo nesta prece.

Seja só isto um poema de amor.


Oldair Marques



Vestido de noiva

De cetim.
Um vestido feito assim
que o próprio bordado
produz.
Branco, branco, branco
porque reflete a luz.

E nupcialmente
me desnudas,
sem lascívia
ou volúpia somente.

Da carne me despes
e ama-me
como se nada além
tivesse mais vida,
além do prazer
do amor, assim,
da carne despida.


Oldair Marques













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