Imitas morada,
barracão de família,
onde a vigília vem à noite
e descansa
sem lamento,
no relento,
ao chão.
Se bem que te sei fraco,
imundo,
oriundo de profundo fracasso,
da lama te renasço.
E por amor de teu dono,
finjo-me tonta de sono,
deito-me em teu chão,
e palácio te faço
em vigília de paixão.
E embora tu não vejas,
vejo-te em meu fértil poema.
O rouco passarinho,
o estridente vizinho.
O leite derramado,
a fresta no telhado,
o frio, o dilema:
teu medo de amanhecer tombado.
Nesta intensa emoção
em que vivo a cada dia
para tirar-te dessa triste moradia,
só temo que teu dono,
por ironia, ou desolação,
não queira minha poesia
de te fazer palácio,
barracão!
Oldair Marques
Oldair Marques