quarta-feira, 11 de maio de 2011

Espelhada Visão




Quis ser o céu, quis ser a terra,
quis ser o mar, o ar, o fogo,
o todo de único tema.
Mas tudo que quis,
todo poeta foi em seu poema.

Fui você, para não plagiar.
Fui eu, no espelho,
me plagiando a imagem.
Fui o movimento, a revirada. 
Fui o outro. Terminei sendo o nada.

Quis ser inteira, quis ser metade.
Quis ser quem chega,  
quis ser quem parte.
E para não ser quem imita,
fui quem morre, fui quem fica.

E ainda projetada no espelho,
cópia da própria vida, 
me esperei na chegada
e embarquei na partida.

Quis ser eu. Quis ser Deus.
Quis ser exclusivo pensamento.
Acabei sendo o imitável universo,
a visão que alcanço.
Sou, enfim, o meu verso.


Oldair Marques

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dança comigo

Lá vem um corpo
gracioso, deslizando.
A ponta do pé
o chão acaricia.
As mãos, aos céus
docemente se erguem,
e a alma vem flutuando.

Mexe pra lá e pra cá
esse ente que
a dança ensina.

Um fogo ardente
e sereno
por dentro vagueia
e o salão ilumina.

E o meu corpo,
este principiante,
em tudo imita
essa lamparina.

E minh’alma,
ah! esta apaixonada!
anseia, um dia,
ser dançarina.


Oldair Marques



terça-feira, 19 de abril de 2011

Insensatez

Meu insensato lado de lá,
que se insinua
na segura corrente em que vivo.
Que me deseja nua, na rua,
tonta de tanto riso,
afugentando a demência de tanto siso.

Meu sensato lado de cá,
que equilibrista me faz,
e foge do perigo,
e em redoma segura se fecha,
e prende as cordas.
Torna cansativa paz a quietude.
Secreta-me um degredo,
sem mistério, sem segredo.

Ah! Insensatez que não se impõe!
Minha incerta parte que não se expressa!
Arrebenta de vez o quadrado.
Faz pontudo, faz de conta,
faz tudo que insensato pareça.
Impede que a sensatez me emudeça.
Faz-me lenta, prazerosa,
liberta de cercas, à toa,
insensata, misteriosa.

Oldair Marques

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